O Clima em Portugal
Segundo o IPCC, "clima" pode ser definido de forma simples como "o tempo médio", i.e., uma descrição estatística da média e variabilidade de várias variáveis meteorológicas.
Entre as variáveis mais comuns estão a temperatura, a precipitação, o vento e a insolação.
O período de análise pode ir de alguns meses a vários milénios, embora a OMM (Organização Meteorológica Mundial) sugira a utilização de médias de 30 anos, valor adotado em Portugal pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera para definir normais climatológicas.
Quando tentamos caracterizar alterações climáticas estamos interessados em detectar alterações nas médias ou na variabilidade dessas variáveis ao longo do tempo.
Importa por isso acompanhar e registar os eventos meteorológicos à medida que estes vão ocorrendo (recorrendo à rede de estações meteorológicas espalhadas pelo país) e, com base nesses valores, caracterizar as alterações que vão ocorrendo no clima, i.e., as tendências no clima observado.
Quando tentamos prever tendências para o futuro, recorre-se normalmente a outro tipo de ferramentas, sendo o mais comum a utilização de modelos de projeção climática, que tentam simular a resposta do clima em função de vários cenários de emissões ou concentrações de gases com efeito de estufa.
O Clima Observado - Como tem evoluído o clima em Portugal?
Os estudos* mais abrangentes já realizados, compreendendo uma análise integrada da evolução climática em Portugal Continental, Açores e Madeira durante o século XX, permitem inferir as seguintes tendências no clima nacional:
- Observações meteorológicas realizadas em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira indicam que o clima português sofreu, ao longo do século XX, uma evolução caracterizada por três períodos de mudança da temperatura média, com aquecimento em 1910-1945, seguido de arrefecimento em 1946-1975 e por um aquecimento mais acelerado em 1976-2000.
- Outras variáveis climáticas apresentam variações importantes, como é o caso da nebulosidade, da insolação e da humidade relativa, mostrando que o processo de aquecimento global é complexo na sua interação com o ciclo da água.
- Em Portugal Continental as séries temporais de temperatura máxima e mínima apresentam tendências com o mesmo sinal das observadas a nível global; em particular no último quarto de século registou-se um aumento significativo das temperaturas máximas e mínimas médias, com os valores das tendências de ambas as temperaturas a serem da mesma ordem de grandeza. Mais recentemente, o valor da tendência da temperatura mínima é superior ao da temperatura máxima, o que implica uma redução da amplitude térmica;
- Tendência significativa de aumento do número de “dias de Verão” e de “noites tropicais”, bem como do índice anual de ondas de calor;
- Tendência significativa de diminuição de dias e noites frias e no número de ondas de frio;
- No Continente, e no que se refere à precipitação, a evolução observada apresenta grande irregularidade e não se verificam tendências significativas no valor médio anual. Contudo, nas últimas décadas observou-se uma importante redução na precipitação do mês de Março, em todo o território, acompanhada nas últimas décadas por uma redução mais pequena, mas significativa, da precipitação em Fevereiro.
- Nas ilhas, sobretudo nos Açores, a precipitação é caracterizada por uma grande variabilidade interanual, com diferentes graus de expressão nas diferentes ilhas, verificando-se mais recentemente uma alteração significativa do seu padrão sazonal.
- As alterações climáticas não são, portanto, algo que irá ocorrer num futuro longínquo, mas antes um processo dinâmico que está em curso e que urge conhecer, acompanhar e compreender.
* Baseado nos Relatórios dos Projetos SIAM, SIAM_II e CLIMAAT_II
A adaptação às Alterações Climáticas - A resposta a um acumular de evidências
Um pouco por todo o Mundo - e também em Portugal - as pessoas, organizações e empresas foram-se adaptando ao clima do local onde estão inseridos, organizando as suas atividades diárias, os locais onde vivem e tantos outros aspetos das suas vidas, por forma a tirar partido dos aspetos positivos desse clima e a protegerem-se de eventuais problemas e limitações que esse mesmo clima lhes coloca.
Mas o clima do planeta está a mudar e a bacia do Mediterrâneo está entre as regiões onde essa mudança está a ser mais rápida. Essas alterações irão afetar, por exemplo, os valores médios de temperatura e de precipitação e - tão ou mais importante do que isso - a frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos.
Essas alterações constituem um desafio que é necessário enfrentar de forma estruturada, se quisermos prevenir os seus efeitos, capitalizar os seus benefícios e reduzir riscos e perdas.
A adaptação às Alterações Climáticas - Planos Municipais e Intermunicipais de Adaptação às Alterações Climáticas
Os Planos e Estratégias Municipais e Intermunicipais de Adaptação às Alterações Climáticas constituem uma peça fundamental na adaptação de Portugal aos efeitos inevitáveis das Alterações Climáticas. Nesse seguimento, foi realizado um levantamento dos Planos e Estratégias que já se encontravam em vigor e/ou em elaboração, que se encontra devidamente explanado na tabela seguinte, por forma a facilitar a sua divulgação.
Tabela Resumo Planos Municipais e Intermunicipais de Adaptação às Alterações Climáticas
Mapa Resumo Planos Municipais e Intermunicipais de Adaptação às Alterações Climáticas
Projeções e Cenários Climáticos - Tendências e conclusões dos estudos já realizados em Portugal
Projeto SIAM
Nos projetos SIAM, SIAM_II e CLIMAAT_II, os cenários de alterações climáticas para Portugal foram analisados, usando simulações de diferentes modelos climáticos. A simulação de controlo do modelo com maior resolução espacial foi comparada com os valores observados, tendo indicado um elevado nível de aderência nas variáveis temperatura média e precipitação. Juntamente com os resultados de outros modelos analisados nos projetos referidos, sugere-se, para o período 2080-2100, o seguinte cenário climático:
- Todos os modelos, em todos os cenários, prevêem um aumento significativo da temperatura média em todas as regiões de Portugal até ao fim do século XXI;
- Aumento da temperatura máxima no Verão, no continente, entre 3ºC na zona costeira e 7ºC no interior, acompanhados por um incremento da frequência e intensidade de ondas de calor;
- Nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira os aumentos da temperatura máxima deverão ser mais moderados, entre os 2°C e os 3°C na Madeira, enquanto para os Açores os aumentos estimados são entre 1°C e 2°C;
- Todos os índices climáticos relacionados com temperatura exibem também alterações do cenário climático. Os aumentos são grandes no número de dias muito quentes (máxima superior a 35ºC) e de noites tropicais (mínimas superiores a 20ºC), enquanto são esperadas reduções em índices relacionados com tempo frio (por ex., dias de geada ou dias com temperaturas mínimas inferiores a 0ºC);
- Em todo o território nacional são previstos efeitos decorrentes da alteração do clima térmico, designadamente os relacionados com o incremento da frequência e intensidade das ondas de calor, com o aumento do risco de incêndio, com a alteração das capacidades de uso e ocupação do solo e com implicações sobre os recursos hídricos;
- No que se refere à precipitação, a incerteza do clima futuro é substancialmente maior. No entanto, em quase todos os modelos analisados é prevista uma redução da precipitação em Portugal Continental durante a Primavera, Verão e Outono; Um dos modelos de clima prevê reduções da quantidade de precipitação no Continente que podem atingir valores correspondentes a 20% a 40% da precipitação anual (devido a uma redução da duração da estação chuvosa), com as maiores perdas a ocorrerem nas regiões do Sul; O modelo regional, com maior desagregação regional, aponta para um aumento na precipitação durante o Inverno, devido a aumentos no número de dias de precipitação forte (acima de 10mm/dia);
- Na Madeira estima-se igualmente uma importante redução da precipitação anual, até cerca de 30%; bem como alterações significativas na sua variabilidade interanual e sazonal, circunstâncias agravadas pela limitada capacidade de retenção hídrica dessa região;
- Nos Açores antevê-se alterações do ciclo anual da precipitação sem grande impacte nos valores totais.
Alguns conceitos úteis sobre Adaptação às Alterações Climáticas
O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas) define adaptação como um ajustamento nos sistemas naturais ou humanos como resposta a estímulos climáticos verificados ou esperados, que moderam danos ou exploram oportunidades benéficas.
O IPCC distingue ainda vários tipos de adaptação:
- Adaptação Antecipatória: Medidas tomadas antes dos impactes das alterações climáticas serem observados. Também referida como adaptação proativa.
- Adaptação Autónoma: Medidas tomadas, não como resposta consciente a estímulos climáticos, mas que são desencadeadas por alterações ecológicas em sistemas naturais e por alterações de mercado e de bem-estar em sistemas humanos. Também referida como Adaptação Espontânea.
- Adaptação Planeada: Medidas que resultam de decisão política deliberada, baseadas na consciência de que as condições se alteraram ou estarão prestes a alterar-se, e que são necessárias para regressar a, ou manter, um estado desejado.
IPCC - Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas
O IPCC - Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas - foi estabelecido em 1988 pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) e pelo PNUA (Programa das Nações Unidas para o Ambiente), com o mandato de avaliar e compilar a informação científica sobre alterações climáticas; avaliar as consequências ambientais e socioeconómicas das alterações climáticas; e formular estratégias de resposta realistas.
Desde então os relatórios do IPCC continuam umas das referências principais, informando o debate político e as respostas a implementar por todo o Mundo.
A última avaliação foi divulgada em 2023 (6º Relatório de Avaliação) e pode ser consultada aqui. No contexto da adaptação às alterações climáticas é particularmente relevante o trabalho do WGII sobre Impactes, Adaptação e Vulnerabilidade (6º Relatório).
Adaptação na OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
A OCDE tem vindo a desenvolver um extenso trabalho sobre adaptação às alterações climáticas estruturado sob 3 eixos:
- Aspetos económicos da adaptação
- Integrar a adaptação na cooperação para o desenvolvimento
- A adaptação no contexto dos países desenvolvidos
Para além de organizar workshops e reuniões específicas sobre estes temas, a OCDE tem vindo a publicar diversos relatórios de documentos técnicos de grande interesse.
Monitorização da Adaptação às Alterações Climáticas em Portugal
Existem inúmeras obrigações de reporte a que a temática de Adaptação às Alterações Climáticas dá resposta, seguidamente deixamos os links dos exercícios mais recentes:
- 8ª Comunicação Nacional (UNFCCC) e 5º Relatório Bienal (2022)
- Comunicação de Adaptação de Portugal (UNFCC)
Os Estados-Membros devem comunicar à Comissão Europeia as informações sobre as respetivas ações de adaptação nacionais, em conformidade com o artigo 19.º, n.º 1, do Regulamento (UE) 2018/1999. Até 15 de março de 2021, e de dois em dois anos após essa data, os Estados-Membros devem apresentar à Comissão relatórios sobre os planos e as estratégias nacionais de adaptação às alterações climáticas, indicando as ações executadas e planeadas para facilitar a adaptação às alterações climáticas.
- Relatório de adaptação em Portugal 2021 (conteúdo do relatório em inglês)
- Relatório de adaptação em Portugal 2023 (conteúdo do relatório em inglês; ainda em escrutínio pela Comissão Europeia)