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Destaques

APA atualiza diagnóstico do estado da faixa costeira

A APA - Agência Portuguesa do Ambiente procedeu à atualização dos indicadores de diagnóstico do estado da faixa costeira, em particular no que se refere à sua tendência evolutiva entre 2018 e 2021.

O trabalho foi realizado com base na análise mais recente dos dados obtidos no âmbito do COSMO-Programa de Monitorização da Faixa Costeira de Portugal Continental, iniciado em julho de 2018 e cofinanciado pelo POSEUR durante três anos, com custo aproximado de 2 900 000 €. O Programa COSMO procede à realização programada e sistemática de levantamentos topográficos e hidrográficos nas praias, dunas, fundos submarinos próximos e arribas, consistindo os dados obtidos em ortofotomapas, MDE-modelos digitais de elevação da margem terrestre, levantamentos hidrográficos e perfis de praia (imersos e emersos).

A análise foi efetuada para os troços costeiros praia de Ofir - Pedrinhas-Cedovém; praia de Cortegaça - praia do Furadouro; praia da Barra - praia de Mira (norte); praia da Cova-Gala - Costa de Lavos; e Costa de Caparica, face à tendência erosiva histórica, morfologia costeira (litoral baixo e arenoso) e maior exposição de pessoas e bens a situações de risco.

Para definição e classificação dos troços face à sua evolução (i.e. erosão ou acumulação) foram adotados os seguintes critérios:

Classificação do troço Taxas de evolução
Erosão extrema + de - 5 m/ano
Erosão severa Entre - 3 a - 5 m/ano
Erosão intensa Entre -1 a - 3 m/ano
Erosão Entre - 0.5 a - 1 m/ano
Estável Entre 0.5 a + 0.5 m/ano
Acreção + de + 0.5 m/ano

Entre a praia de Ofir e a praia de Pedrinhas/Cedovém, com uma extensão de 2.9 km, 97% do troço encontra-se em erosão, grande parte categorizado como em situação de “Erosão Intensa”, tendo por base o esquema de classificação adotado. O recuo máximo observado neste troço entre 2018 e 2021 (figura 1) foi de – 15 m, com um recuo médio de -1.1 m/ano.

Figura 1 – Evolução da linha de costa entre 2018 e 2021
Entre a praia de Cortegaça e a praia do Furadouro, com uma extensão de 8 km, 83% do troço encontra-se em erosão, sendo que destes 56% são categorizados como em situação de “Erosão Extrema” e “Erosão Severa”. O recuo máximo observado neste troço entre 2018 e 2021 (figura 2) foi de – 33.5 m, com um recuo médio de -3.6 m/ano.

Figura 2 – Evolução da linha de costa entre 2018 e 2021
Entre a praia da Barra e a praia de Mira (norte), com uma extensão de 20 km, 77% do troço encontra-se classificado como “Estável” ou em “Acreção”, estando os restantes 23% em erosão. Em termos médios integrados, a totalidade do troço regista uma taxa positiva de + 2 m/ano (figura 3).

Figura 3 – Evolução da linha de costa entre 2018 e 2021
Entre a praia da Cova-Gala - Costa de Lavos, com uma extensão de 4 km, 90% do troço encontra-se em erosão, sendo que destes 55% são categorizados como em situação de “Erosão Severa” ou “Erosão Extrema”. O recuo máximo observado neste troço entre 2018 e 2021 (figura 4) foi de 49 m, com um recuo médio de – 3.7 m/ano.

Figura 4 – Evolução da linha de costa entre 2018 e 2021
Na Costa da Caparica, com uma extensão de 4 km, 93% do troço encontra-se classificado como “Estável” ou em “Acreção”. A acreção (i.e. acumulação) máxima foi de + 60 m. Em termos médios integrados, a totalidade do troço regista uma taxa positiva de + 10 m/ano (figura 5).

Figura 5 – Evolução da linha de costa entre 2018 e 2021
Os resultam obtidos com o Programa COSMO confirmam a manutenção (e por vezes agravamento) da tendência erosiva exibida entre a praia de Ofir – praia de Pedrinhas/Cedovém, praia de Cortegaça – praia do Furadouro e praia da Cova-Gala – Costa de Lavos, face à situação de défice sedimentar atualmente existente nestes troços costeiros.

Em oposição, os troços costeiros localizados entre a praia da Barra e a praia de Mira (norte) e a Costa da Caparica mostram uma tendência clara no sentido da atenuação do processo erosivo. Em ambos os troços foram realizadas uma série de intervenções de alimentação artificial de praia nos últimos anos, as quais estão a contribuir de forma efetiva para a reposição local do balanço sedimentar e reequilíbrio destes sistemas costeiros, contrariando assim a tendência erosiva instalada de longo prazo e mitigando os efeitos negativos causados pelos temporais sobre a linha de costa.

Desde 2010 até à data, entre a praia da Barra e a praia de Mira (norte) foram já depositados mais de 7 milhões de m3 de sedimentos nos fundos submarinos próximos, praias e dunas. A maioria destas intervenções foi concretizada pela Administração do Porto de Aveiro no decurso do aproveitamento dos chamados “sedimentos de oportunidade” decorrentes da sua atividade de dragagem (na barra, canal de navegação e interior do porto).

Este valor inclui a intervenção conjunta realizada pela Administração do Porto de Aveiro e a Agência Portuguesa do Ambiente em 2020, a qual consistiu na dragagem de aproximadamente 2.4 milhões m3 de areia existente no interior do porto (ZALI) e sua deposição no mar a profundidades entre os -4m ZH/-8m ZH na zona imersa entre os esporões 3 e 5 da Costa Nova. A monitorização efetuada no âmbito do Programa COSMO confirma que os sedimentos depositados estão a ser redistribuídos pelas praias adjacentes (i.e. Costa Nova) e difundidos para sul ao longo desta célula costeira, contribuindo para o reforço do seu balanço sedimentar e, concomitantemente, para a atenuação do processo erosivo.

Na Costa da Caparica, os resultados do Programa COSMO confirmam os efeitos positivos da última intervenção de alimentação artificial realizada pela APA em 2019, conjuntamente com a Administração do Porto de Lisboa, S.A, a qual consistiu na deposição de 1 milhão de m3 de sedimentos (dragados do canal da barra) diretamente nas praias da Costa de Caparica. A interpretação dos resultados da monitorização (neste troço realizada desde 2007) permitiu concluir sobre o aumento progressivo da longevidade das intervenções de alimentação artificial de praia que têm vindo a ser feitas desde 2007 (5 no total), numa lógica de reposição integrada do balanço sedimentar na célula de circulação sedimentar do estuário exterior do Tejo.

Os resultados preliminares obtidos no âmbito do Programa COSMO confirmam, em linha com o melhor conhecimento e literatura técnico-científica nacional e internacional, que, em determinados locais ou áreas mais extensas, é possível atenuar a tendência erosiva de longo prazo através da realização periódica de intervenções de alimentação artificial de praias, numa lógica de reposição ou manutenção do balanço sedimentar.

Neste contexto, a APA irá assegurar a prossecução no curto médio/prazo de mais intervenções desta natureza, em particular nos troços com valores críticos de erosão, atuando de forma programada e faseada, em função dos resultados da monitorização em curso, dos recursos financeiros disponíveis e em linha com o estipulado no Plano de Ação Litoral XXI e Programas da Orla Costeira (POC) já aprovados ou em fase final de aprovação.
 

 

 

 

 

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