Guião para Empresas e Sectores
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Guião para Empresas e Sectores
Ferramenta para facilitar a adopção de medidas de adaptação
Esta secção dá indicações para auxílio a organizações que queiram iniciar uma abordagem estruturada à adaptação às alterações climáticas.
Acreditamos que as indicações dadas poderão ser particularmente úteis como orientação para os Grupos de Trabalho Sectoriais identificados na ENAAC ou para empresas particularmente expostas a riscos climáticos.
Este guião segue de perto a estrutura e conteúdos da publicação do UK Climate Impacts Programme intitulada "Identifying adaptation options"
1) Princípios Orientadores para uma Adaptação Eficaz
As medidas de adaptação terão de ser apropriadas para o seu objectivo. Assegurar que uma medida é "apropriada" não é fácil por várias razões. Em primeiro lugar, porque por vezes a avaliação de sucesso da medida só pode ser feita depois desta estar implementada há já algum tempo. Ocorre também muitas vezes que o sucesso da medida é influenciado por outros factores externos ou por alterações posteriores. Apesar destas dificuldades, a experiência mostra que existem alguns princípios que, se seguidos, auxiliam e informam o processo de identificação de "boas medidas de adaptação":
- Trabalhe em parceria. Informe e envolva a comunidade, os seus fornecedores, clientes ou outras partes interessadas. Eles têm perspectivas e experiências que serão úteis;
- Compreenda riscos e limiares sensíveis associados aos processos e actividades mais relevantes para o seu sector / organização;
- Formule e comunique objectivos SMART (do acrónimo inglês para eSpecíficos, Mensuráveis, Atingíveis, dirigido para Resultados e limitados no Tempo);
- Aborde riscos climáticos e outros riscos de forma equilibrada;
- Foque a sua atenção sobre os riscos climáticos mais prioritários;
- Comece por responder aos riscos da variabilidade climática actual como ponto de partida para identificar acções que permitam antecipar riscos e oportunidades associados com as alterações do clima;
- Use estratégias por aproximação para lidar com incerteza em relação aos cenários climáticos futuros e reconhecendo as vantagens de uma abordagem faseada;
- Reconheça as opções de adaptação "sem arrependimento", de "baixo arrependimento" e "win-win" como as mais custo-eficazes e que proporcionam benefícios múltiplos;
- Evite acções de adaptação que encerrem outras abordagens no futuro ou que limitem as opções de adaptação de outros sectores ou agentes;
- Reveja de forma periódica as medidas de adaptação já implementadas.
2) Participação e Envolvimento das Partes Interessadas
SÃO PARTES INTERESSADAS
> Os que podem afectar (positiva ou negativamente) a introdução de mudanças;
> Os que tenham conhecimento ou competências para tomar ou implementar decisões;
> Os que são directamente afectados pelos mesmos riscos climáticos ou pelas medidas de adaptação propostas;
> Os que representam interesses das suas comunidades (valores e expetativas).
As partes interessadas mais relevantes dependem do tipo de organização, mas entre os mais comuns estão clientes, fornecedores, pessoas e comunidades afectadas pelas actividades da nossa organização, representantes de organizações profissionais, cientistas ou representantes de entidades com competências de regulação e fiscalização.
As partes interessadas podem ser particularmente relevantes na identificação e aplicação de medidas de adaptação, podendo contribuir com as suas perspectivas, conhecimento e experiência. Por vezes podem também ser mobilizáveis como "agentes de mudança" e este papel deve ser capitalizado.
Quanto mais informadas e envolvidas estiverem as partes interessadas no processo de adaptação, mais provável é que as medidas a aplicar tenham boa aceitabilidade e que sejam bem sucedidas.
Nesse sentido é útil tentar desenvolver com as partes interessadas um entendimento partilhado da natureza, tipo e escala dos riscos climáticos mais relevantes e, combinando numa mesma abordagem aspectos científicos e técnicos com o conhecimento e experiência locais, desenvolver estratégias ou medidas de adaptação que sejam socialmente, economicamente, ambientalmente e socialmente adequadas e aceitáveis.
O papel das partes interessadas é também potencialmente muito relevante na análise de trade-offs ou na selecção entre diferentes opções de adaptação que concorrem para o mesmo objectivo. A explicitação e consideração dessas diferentes perspectivas é particularmente importante, se pensarmos que muitas medidas de adaptação poderão trazer tanto benefícios como problemas, dependendo da perspectiva dos agentes envolvidos.
Assegurar uma ampla diversidade de partes interessadas é também importante para identificar potenciais efeitos sinérgicos ou conflituais entre diferentes medidas ou acções. A implementação de medidas de adaptação num sector não deve, na medida do possível, limitar as opções de outros sectores ou agentes. Contrariamente, sempre que uma medida de adaptação possa contribuir para aumentar a capacidade adaptativa de mais do que um sector, esse aspecto deve ser explorado e maximizado.
3) Lidar com a Incerteza das Projecções Climáticas
Uma das principais barreiras à implementação de medidas de adaptação prende-se com a - ainda grande - incerteza relativamente a vários aspectos das alterações climáticas: quanto vai aumentar a temperatura? quando é que esses aumentos se vão fazer sentir? quais os efeitos sobre a precipitação, subida do nível do mar, e outras tantas variáveis? Contudo, esta incerteza não deve ser encarada como "desculpa" para não tomar acções apropriadas. Muitas decisões políticas e financeiras são diariamente tomadas com base em pressupostos com iguais ou até maiores níveis de incerteza (por ex., previsões de crescimento económico, emprego ou mudanças nas preferências dos consumidores). A abordagem à adaptação deve ser encarada de forma semelhante. No caso da adaptação as ferramentas de gestão de risco podem e devem ser utilizadas, sendo particularmente úteis a consideração combinada do grau de risco e das consequências da tomada de acção, incluindo a disponibilidade para aceitar as implicações de uma decisão errada (aversão ao risco). A consideração da adequação de uma estratégia ou série de acções de adaptação envolve com frequência preocupações - financeiras, mas também de imagem - associadas com a sua selecção e implementação. O que fazer se a acção for excessiva (sobre-adaptação), insuficiente (sub-adaptação), restritiva ou até errada ou injustificada? Uma forma eficaz de lidar com esta incerteza pode ser encontrada em abordagens flexíveis, que envolvam a aplicação de medidas de adaptação de forma faseada. Neste tipo de abordagem, tomam-se hoje as decisões que são relevantes para os riscos climáticos que já hoje são significativos, deixando para mais tarde a implementação daquelas acções cujo risco é ainda muito incerto e, portanto, tolerável. Um bom ponto de partida é, portanto, a consideração da variabilidade e extremos climáticos de hoje para a tomada de acções de adaptação que antecipem também alguns riscos e oportunidades futuras. A consideração do clima actual é também importante para identificar vulnerabilidades (ex., como se comportou o sector ou a empresa na onda de calor de 2003?) e avaliar a qualidade das respostas já implementadas. |
Número de dias da onda de calor no Verão de 2003. |
4) Identificação de Medidas de Adaptação
As respostas aos riscos e oportunidades climáticos são geralmente apoiadas em medidas de adaptação que genericamente tentam:
As subpáginas desta secção ajudam a caracterizar o tipo de medidas de adaptação e os critérios que podem ser utilizados para seleccionar entre medidas de adaptação que concorram para os mesmos objectivos.
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A identificação de medidas pode ocorrer a várias escalas desde geográficas a temáticas ou sectoriais. Alguns Municípios Portugueses iniciaram já a identificação das vulnerabilidades climáticas dos seus territórios. |
5) Tipos de Medidas de Adaptação
As ações de adaptação podem ser categorizadas em quatro grandes tipos:
Na prática, a adaptação envolverá uma mistura destas várias estratégias, provavelmente introduzidas numa sequência previamente estabelecida: algumas acções aumentando a resistência climática (ex., códigos de construção), outras aumentando a capacidade de viver com risco (ex., aumento da preparação e planeamento de contingência), outras ainda aceitando perdas (ex., aceitando perdas ocasionais ou reduções temporárias na qualidade de alguns serviços). |
A capacidade de resposta a situações de socorro e emergência (fogos florestais, secas, cheias, ondas de calor) terá de ser avaliada face a cenários climáticos futuros. |
6) Avaliar e Selecionar Opções de Adaptação
Para abordar de forma conveniente um determinado risco climático podem, normalmente, ser desenvolvidas várias estratégias ou medidas. Fazer a avaliação dos seus custos e benefícios e, finalmente, escolher as medidas que serão implementadas é um exercício que merece alguma consideração. As medidas de adaptação bem especificadas devem ser capazes de responder aos seguintes três critérios:
Normalmente, é possível identificar medidas que são práticas, custo-eficazes e perfeitamente justificadas face à variabilidade climática actual e que encontram justificação adicional no contexto de alterações climáticas futuras. Entre as medidas que mais facilmente reúnem essas caracteríticas encontramos: Opções “sem arrependimento". Medidas de adaptação cujos benefícios excedem os custos, seja qual for a intensidade das alterações climáticas. Tratam-se normalmente de medidas que permitem responder de forma adequada à variabilidade climática actual e que têm capacidade para continuarem eficazes quando as alterações climáticas se materializarem. São também "boas candidatas" para serem as primeiras medidas a serem implementadas. Opções “de baixo arrependimento”. Medidas de adaptação com custos relativamente baixos e com benefícios que são relativamente elevados, ainda que estes só se venham a concretizar em pleno após ocorrerem alterações climáticas de alguma intensidade. Opções “win-win”. Medidas de adaptação introduzidas principalmente para abordar riscos climáticos mas que, para além de aumentarem a capacidade adaptativa, produzem igualmente outros benefícios sociais, económicos ou ambientais. Outra forma de abordar o problema consiste em não procurar "a solução" para um determinado risco climático, mas sim, em alternativa, pensar em abordagens flexíveis e adaptativas, segundo as quais as medidas de adaptação vão sendo introduzidas no tempo ou no espaço de forma sequencial, à medida que se vai confirmando a adequação da medida ou concretizando os riscos climáticos. |
7) Atualizar, Reavaliar e Rever Medidas de Adaptação
Manter atuais e válidos objectivos e estratégias.
A forma de manter um Plano de Adaptação eficaz passa necessariamente pela sua actualização e revisão, numa lógica de melhoria contínua. Entre as razões para rever um plano de adaptação podem estar:
8) O Plano de AdaptaçãoUma abordagem estruturada
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