O troço costeiro a sul da barra da Figueira da Foz, designadamente no setor entre o esporão n.º 5 da Cova-Gala até à povoação de Lavos, com cerca de 3.5 km, apresenta tendência erosiva de curto e médio prazo, manifestada pelo recuo acentuado da linha de costa baixa e arenosa (sistema praia-duna).
Os resultados indicados na Tabela 1 e Figura 1 mostram a evolução da linha de costa no médio e curto prazo (Pinto et al., 2021).
No curto prazo, entre 2018 e 2021, o recuo médio foi de - 14 m ± 9.6, com uma taxa média de recuo anual de -5.5 m/ano ± 3.7, classificando-se 52 % do troço em situação de erosão extrema (i.e.> 5 m/ano – classificação de Esteves & Finkl, 1998), o que confirma o agravamento recente do cenário erosivo face à situação de médio prazo entre 2010-2018 (apenas 17% em erosão extrema) e a necessidade urgente de reforçar o balanço sedimentar neste troço costeiro.
Período | Evolução | Recuo máximo | Taxa média de evolução | % em erosão | % em erosão extrema |
2001-2010 | +6.4 m ± 7.3 | -6.4 m | +0.7 m/ano ± 0.8 | 22% | 0% |
2010-2018 | -26 m ± 16.6 | -83.3 m | -3.1 m/ano ± 1.9 | 97% | 17% |
2018-2021 | -14 m ± 9.6 | -42.5 m | - 5.5 m/ano ± 3.7 | 97% | 52% |
A vulnerabilidade e risco potencial existente e respetiva situação de défice sedimentar justificam a adoção de uma estratégia de proteção/defesa costeira assente na realização de uma alimentação artificial de elevada magnitude, tendente a repor parcialmente o balanço sedimentar.
Para tal, a Agência Portuguesa do Ambiente elaborou o Projeto de Execução, Estudo de Impacte Ambiental e Análise Custo-Benefício da intervenção “Alimentação artificial de praia no troço costeiro a sul da Figueira da Foz (Cova-Gala - Costa de Lavos)”, tendo, através de um Concurso Público Internacional, contratado o agrupamento de empresas Nemus-Consulmar-Hidromod.
O projeto foi sujeito a procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental, tendo obtido Declaração de Impacte Ambiental (DIA) com decisão favorável, condicionada. Com esta intervenção pretende-se, fundamentalmente, repor a posição da linha de costa (base da duna) à data de 2011, ou seja, antes de se terem começado a fazer sentir os efeitos erosivos do prolongamento do molhe norte do Porto da Figueira da Foz (em 2010).
A zona de empréstimo dos sedimentos localiza-se em frente à praia da Claridade/Figueira da Foz, num polígono definido sensivelmente entre as cotas -3 e -12 m ZH, abrangendo assim a barra submersa da praia, ou seja, a barlamar do transporte sólido que contribui para o assoreamento da embocadura (Figura 2).
No âmbito do Projeto Base, Projeto de Execução e Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foram modelados numericamente uma série de cenários de intervenção e efetuada a análise custo benefício de cada um deles.
Da integração da totalidade dos resultados obtidos pela modelação numérica foi possível concluir-se que na ausência de intervenção o recuo nos próximos 10 anos poderá ser da mesma ordem de grandeza do observado na última década. Os cenários de intervenção previstos (alimentação artificial na praia imersa e emersa/duna com diferentes volumes) permitem uma forte minimização do recuo da linha de costa relativamente à situação atual, expectando-se uma longevidade das intervenções da ordem dos 5 a 7 anos.
Conjugados os resultados da modelação numérica com a análise custo-benefício, foi selecionado o cenário que apresentada melhor desempenho em termos de mitigação da erosão costeira e risco, concorrendo para: a melhoria das condições de estabilidade da linha de costa; redução da vulnerabilidade ao galgamento/inundação costeira; proteção de obras de engenharia costeira pesada.
A intervenção a levar a efeito contempla a alimentação artificial no domínio emerso das praias entre os esporões n.º 3 e n.º 5 da Cova-Gala (Vol. = 160 000 m3) (Figuras 4 e 5) e numa extensão de 1.6 km a sul do 5.º esporão da Cova-Gala (Vol. = 1 420 000 m3) (Figuras 4 e 5), obtendo-se um volume total de deposição de 1 580 000 m3, ao qual se aplicou um fator de sobre-enchimento de 1.15.
Acrescem ainda 22 500 m3 para reforço do cordão dunar secundário (zonas com evidência de galgamentos) a sul do 5.º esporão e 1 500 000 m3 a depositar no domínio imerso a profundidades de -4 m ZH e -8/-9 m ZH com uma extensão de ≈ 2 km com limite norte alinhado com o esporão n.º 4 da Cova-Gala (Figura 4).
O volume total será de ≈ 3 340 000 m3, o que configura a maior intervenção de alimentação artificial de praia realizada em Portugal.
A avaliação da real longevidade, eficácia e comportamento da intervenção será efectuada no âmbito do Programa COSMO, uma vez que este abrange o troço costeiro em questão. Esta medida permitirá otimizar e melhor adequar futuros projetos às condições locais e aos objetivos de proteção ou valorização previamente definidos. No âmbito desta intervenção, serão ainda implementados programas de monitorização dos sistemas ecológicos, das comunidades betónicas e planctónicas.
As condições locais, em particular de agitação marítima, impõem fortes condicionantes à atividade das dragas, admitindo-se que a janela operacional mais favorável para a realização das intervenções, considerando o binómio intensidade da agitação/duração da janela temporal, será de 1 de abril a 15 de outubro.
O presente estudo foi cofinanciado pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos.
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